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Os sinos dobram porque o cobre retine. Pobre, é aquele indivíduo que vive no inferno e ainda tem dúvidas para aonde vai depois de morto. Os sinos dobram porque o cobre retine.

Dica de Documentário: imprescindível para os tempos que vivemos

O documentário “O Dilema das Redes” aborda de forma intrigante como o poder de manipulação está presente nas redes sociais e aplicativos que usamos no nosso cotidiano.10 de jul. de 2023 – Na Netflix.

                                                 

Orós, 1960: O Ano em que o Rio das Onças engoliu o Vale

A parede rompida do açude Orós

O ano de 1960 foi o ano em que o Vale do Baixo Jaguaribe vivenciou a devastação causada pelo rompimento da barragem do açude Orós, no Ceará. Depois da sua construção, o Orós seria por muito tempo o maior açude do estado e um dos maiores do Brasil com uma capacidade estimada de 1,367 bilhão de m³ acumulados. 

Por volta das 00h50, primeiros minutos do dia 26 de março, horas antes da inauguração da obra, os trabalhadores do DNOCS, Órgão responsável, começaram a ouvir e sentir o som da tragédia que se aproximava.

A chuva completamente atípica de 752mm em três dias desembocou 730 milhões de m³ d'água acumulados no açude. Os relatórios também mostram que a água começou a passar por cima do sangradouro do açude as 22h15 do dia 25 de março, uma das maiores catástrofe se abateu sobre o Vale do Jaguaribe. Desabrigando mais de cem mil pessoas e matando muito mais do que mil vidas humanas, números oficiais.

O Orós, obra projetada desde a época do Império, começou sua construção no ano de 1920, depois parou e só foi retomada as obras e terminada no governo de Juscelino KubitschekAs falhas na estrutura do sangradouro começaram a apresentar rachaduras na parede.

Os jornais, rádios e aviões com boletins de aviso foram feitos à população, mas houve muita resistência. Chamaram os sertanejos de “teimosos”, no entanto esquecem que o povo nem sempre tem os mesmos interesses que os interesses do governo.

Os críticos da época, como os dos tempos seguintes, não conseguiam enxergar as realidades da vida daquele povo, suas lutas, alegrias e aflições. A criação, a vacaria, os animais de poleiro até a terra cultivada e já dando seus primeiros frutos.

É preciso compreender que as comunicações não eram tão fácil como hoje. Essas populações foram deixadas sem contato por séculos dependendo apenas de suas próprias forças e da vontade dos chefes políticos. Quem teria autoridade para expulsá-los de tudo o que tinham, de tudo que construíram? O povo sempre foi o último na escala de preocupações do Estado brasileiro.

Até hoje, dos textos que falam sobre a catástrofe, a grande maioria ressalta a “culpa” do povo do Vale do Jaguaribe de não querer sair da região que seria atingida. Mas, nunca procuraram os motivos pelos quais estes povos não queriam deixar seu mundo. Minha mãe era adolescente neste período e me contou o pavor das notícias no rádio e nos panfletos com mensagens apocalípticas.

 



Nas primeiras horas do rompimento foram desaguados pelo açude cerca de 425 milhões de metros cúbicos d’água em direção ao Rio Jaguaribe que por sua característica fluvial encheu seu leito e começou a invadir as suas margens, escorrendo para afluentes e a milhares de lagoas que se espalham pelo relevo da Ribeira do Jaguaribe.

 Foi registrada uma margem de 6km de uma margem à outra do leito. Tudo foi tomado pela tromba d’água inicial e volume que se seguiu nos dias seguintes.

Os dados oficiais da época dizem que o desastre tirou a vida de mil pessoas, porém, tendo em vista a impossibilidade de centenas de vítimas desaparecidas e que nunca foram achadas. Não acredito em um número tão baixo diante do tamanho da região e os mais de cem mil desabrigados. Além das percas das vidas de animais, lavouras, cemitérios, igrejas entre tantas coisas. Por erro humano, erro que nos faz questionar as responsabilidades não assumidas pelos responsáveis pela obra. Até hoje.