Tempos Iperiosos
Um fragmento da música em Russas
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Banda de música Euterpe São Bernardo - 1915; Imagem compilada do livro Russas: 200 anos de emancipação política - Limério Moreira da Rocha |
Campelinho - Francisco
Campelo Silva de Carvalho. Nasceu na cidade de Russas no dia 04 de maio de
1919. Era filho de José Carvalho e silva e Júlia Campelo e Silva. Era
comerciante e músico. Casado com Maria Flora Pereira de Carvalho. Tiveram dois
filhos: Francisco Roberto Pereira de Carvalho, conhecido como Boinha e Maria
Cleuda Lima. Era integrante da Banda de Música Euterpe Afonso Lima nos anos 50.
Tocava saxofone, instrumento que o levou a criar o conjunto musical “O
Campelinho”, que animava as festas no vale jaguaribano nas décadas de 60 e 70.
Faleceu em 08 de agosto de 1995.
Liduino Pitombeira - Começou seus estudos musicais aos
doze anos de idade, tendo como professor Paulo Santiago (Paulinho dos
Teclados). É um dos mais valiosos talentos de nossa música. Liduino Pitombeira
(Russas, 1962) é doutor em composição e teoria musicais pela Universidade
Estadual de Louisiana (EUA) onde estudou com Dinos Constantinides. Lecionou
composição, orquestração e técnicas composicionais contemporâneas, de
Foi professor substituto de harmonia, contraponto e análise na
Universidade Estadual do Ceará (1996-1998). Estudou composição e harmonia
com Vanda Ribeiro Costa (1985-91), Tarcísio José de Lima (1985-88) e José
Alberto Kaplan (1991-98). Durante doze anos (1986-1998) atuou como
instrumentista e diretor musical do Syntagma, um grupo dedicado à performance e
à pesquisa da música antiga e da música nordestina. Foi consultor de música da
Secretária de Cultura do Estado do Ceará (1995-1997) onde elaborou e coordenou
projetos como os da Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho e Quinteto de
Sopros Alberto Nepomuceno.
Suas obras têm sido executadas pelo Syntagma, Orquestra de Câmara
Eleazar de Carvalho, Quinteto de Sopros da Filarmônica de Berlim, Louisiana
Sinfonietta, Red Stick Saxophone Quartet, New York University New Music Trio,
Orquestra Filarmônica de Poznan (Polônia) e Orquestra Sinfônica do
Recife. Recebeu importantes premiações em concursos de composição no
Brasil, destacando-se o primeiro prêmio no I Concurso Nacional Camargo
Guarnieri, por sua obra “Suite Guarnieri”, para orquestra de cordas, e o
primeiro prêmio no Concurso “Sinfonia dos 500 Anos”, por sua tese de mestrado,
“Uma Lenda Indígena Brasileira”, para orquestra sinfônica.
Em março de 2004 recebeu, nos Estados Unidos, o prêmio “2003
MTNA-Shepherd Distinguished Composer of the Year” (Compositor do Ano) por seu
trio com piano “Brazilian Landscapes No.1”. É membro da ASCAP, Society of
Composers Inc. e SBMC (Sociedade Brasileira de Música Contemporânea). Suas
obras são publicas pela Cantus Quercus, Conners, Alry, RioArte, e Irmãos
Vitale.
Maestro
Orlando Leite – Sua
formação aconteceu no Conservatório Alberto Nepomuceno, onde se formou em
Bacharel
Paulo
Gomes Santiago – “Paulinho dos Teclados” - Diplomado como Organista Profissional pela Ordem dos
Músicos do Brasil (OMB nº 3019). Desenvolveu em Russas o trabalho de Organista
na Igreja Matriz no período de
Banda Maestro Orlando Leite – Esta Banda foi criada em 1983, pelo então prefeito senhor Zilzo Leandro Evangelista. Teve como primeiro regente o Tenente Raimundo Alves Bezerra. Está Banda foi a responsável pela formação de vários músicos desde a década de 1980 até nossos dias.
Raimundo Alves Bezerra – O Maestro Bezerra, ou Tenente Bezerra, foi o primeiro regente da Banda de Música Municipal Maestro Orlando Leite. Inaugurada em 1983 pelo então prefeito Zilzo Leandro Evangelista.
Banda Juvenal – A Banda Juvenal, funcionava paralelo a Euterpe Afonso Lima, em 1914. Era patrocinada pelo senhor Juvenal Gonçalves e Joaquim Maciel. Foi dissolvida em 1920, quando o senhor Juvenal vendou o prédio onde ela funcionava para o seu irmão Aderson Gonçalves.
Orquestra Euterpe Afonso Lima - Essa Banda de Música teve seu embrião ainda no final do século XIX. No entanto somente em 1914 é oficialmente criada a Banda Euterpe São Bernardo, com instrumentos próprios. Na sua regência estava o senhor Afonso Lima, grande professor de Russas.
Com sua morte em 1927, passou a
ser denominada Euterpe Afonso Lima. Apresentavam-se no coreto da praça, em
desfiles, nas festas comemorativas e religiosas, assim como, no intervalo das
exibições dos filmes no Cine-teatro. A partir da década de 1950 passou a fazer
parte dos quadros administrativos da Associação Atlética e Cultural de Russas.
Nesse período, seu presidente era o senhor Daltro Holanda e o Vigário era o
padre Pedro de Alcântara.
O Vigário entendendo que o senhor
Daltro Holanda fazia parte da Maçonaria, resolveu proibir qualquer apresentação
da Banda Euterpe Afonso Lima na cidade de Russas. Com essa decisão, pouco a
pouco, foi desaparecendo durante a década de sessenta. Sua formação e fôlego
desde 1915 era a seguinte: [1]
Vicente Leite de Oliveira; José de Carvalho e Silva; Delfino Delmiro Bezerra;
Custódio Primo Guimarães; Vicente de Carvalho e Silva; Luís de Carvalho e
Silva; Manoel dos Santos Lima Sobrinho; Antônio Delmiro Bezerra; João de
Carvalho e Silva; João Roque; Cláudio Silva; Bonifácio Nogueira; Pedro Delmiro
Bezerra; Afonso Lima.
[1] Rocha,
Limério Moreira da; Russas: 200 Anos de Emancipação Política; Ed. Banco do
Nordeste, 2001. Págs. 390, 391 e 392.
A prática de Aproveitar-se
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Imagem Frank_Reppold instagram.com/solarismutabor/Feel free to serve yourself. Your coffee - in Pixbay |
Museu da Inquisição portuguesa - História, dor e resistência
Aqui estão algumas fotos de objetos e cenas, além de muita literatura sobre o assunto. A maleficência que aconteceu na Europa e na Ibéria contra os povos judeus, e seus caminhos para fugir da perseguição religiosa.
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Uma grande Torá, que guarda alguns livros sagrados do judeus. |
A fúria nos tempos da Inquisição Católica contra os judeus, transformou o ambiente social do país. Quase todos que não eram judeus começaram a observar os sinais em famílias suspeitas. A perseguição se dava a toda hora, a todo instante, o público e o privado estavam sob olhares dispostos a entregar os judeus para a Inquisição.
Suspeitavam daquelas famílias que não consumiam a carne de pouco, as horas das orações, as palavras contrárias à igreja de portugal e todos esses pontos da vida pessoal. Muitos foram delatados sem nenhuma prova do delator, apenas a indicação. Era muito fácil morrer nesse tenebroso tempo de perseguição.
O passado no Ceará Grande
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Uma das casas mais antigas de Sobral - Casa do Capitão-mor José de Xerez Furna Uchoa. |
A casa do Capitão-mor José Xerez de Furna Uchoa, administrador do Ceará em 1748. Diversos objetos como porcelana, cerâmica e cachimbos antigos entre outros objetos foram achados em escavação antropológica feita pela Universidade Federal de Pernambuco. - Casa do Cap. José Xerez está localizada em Sobral - CE.
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🐆 Rio das Onças 🐆
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Futuro.bomb.com
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Foto: Guerra, Apocalipse - PixBay20 and. PixBay |
Segunda década do século XXI e continuamos com um pé atolado nos primórdios da civilização, enquanto o outro pé está protegido pelas armas de tecnologia avançada. Controladas remotamente e com carga variada e letal. Diabolicamente elaboradas para levar explosivos diversos, ogivas, armas químicas e biológicas com alto poder de extermínio da vida.
Será este o nosso destino? Já sabemos que até hoje, depois da economia/capital, as guerras vêm sendo o pivô e a alavanca das novas descobertas e avanços sociais. Como no caso da medicina, engenharia, entre tantas outras áreas do conhecimento humano que tiveram suas maiores revoluções depois de se submeterem às tecnologias empregadas na indústria para fins armamentista.Essa deve ser a meta futura, mas que comece agora, de países inteligentes o suficiente para imporem suas vontades através da sua integridade humana – tá ruim. Isso realmente é utópico, mas não no sentido conceitual de Marx, e sim do entendimento de Émile Durkheim. Ou seja, é uma utopia (ou seja, impossível de acontecer) hoje, ou em dias vindouros.
Enquanto isso, vamos levando essa realidade hipócrita e corrupta. Com essa sociedade de máscaras prontas, é preciso boiaaaarrr... e até diria Augusto dos Anjos: “O homem que vive nesta terra miserável, mora entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera”.
🐆 Rio das Onças 🐆
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Orós, 1960: O Ano em que o Rio das Onças engoliu o Vale
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A parede rompida do açude Orós |
O ano de 1960 foi o ano em que o Vale do Baixo Jaguaribe vivenciou a devastação causada pelo rompimento da barragem do açude Orós, no Ceará. Depois da sua construção, o Orós seria por muito tempo o maior açude do estado e um dos maiores do Brasil com uma capacidade estimada de 1,367 bilhão de m³ acumulados.
Por volta das 00h50, primeiros minutos do dia 26 de março, horas antes da inauguração da obra, os trabalhadores do DNOCS, Órgão responsável, começaram a ouvir e sentir o som da tragédia que se aproximava.
A chuva completamente atípica de 752mm em três dias desembocou 730 milhões de m³ d'água acumulados no açude. Os relatórios também mostram que a água começou a passar por cima do sangradouro do açude as 22h15 do dia 25 de março, uma das maiores catástrofe se abateu sobre o Vale do Jaguaribe. Desabrigando mais de cem mil pessoas e matando muito mais do que mil vidas humanas, números oficiais.
O Orós, obra projetada desde a época do Império, começou sua construção no ano de 1920, depois parou e só foi retomada as obras e terminada no governo de Juscelino Kubitschek. As falhas na estrutura do sangradouro começaram a apresentar rachaduras na parede.
Os jornais, rádios e aviões com boletins de aviso foram feitos à população, mas houve muita resistência. Chamaram os sertanejos de “teimosos”, no entanto esquecem que o povo nem sempre tem os mesmos interesses que os interesses do governo.
Os críticos da época, como os dos tempos seguintes, não conseguiam enxergar as realidades da vida daquele povo, suas lutas, alegrias e aflições. A criação, a vacaria, os animais de poleiro até a terra cultivada e já dando seus primeiros frutos.
É preciso compreender que as comunicações não eram tão fácil como hoje. Essas populações foram deixadas sem contato por séculos dependendo apenas de suas próprias forças e da vontade dos chefes políticos. Quem teria autoridade para expulsá-los de tudo o que tinham, de tudo que construíram? O povo sempre foi o último na escala de preocupações do Estado brasileiro.
Até hoje,
dos textos que falam sobre a catástrofe, a grande maioria ressalta a “culpa” do
povo do Vale do Jaguaribe de não querer sair da região que seria atingida. Mas,
nunca procuraram os motivos pelos quais estes povos não queriam deixar seu
mundo. Minha mãe era adolescente neste período e me contou o pavor das notícias
no rádio e nos panfletos com mensagens apocalípticas.
Nas primeiras horas do rompimento foram desaguados pelo açude cerca de 425 milhões de metros cúbicos d’água em direção ao Rio Jaguaribe que por sua característica fluvial encheu seu leito e começou a invadir as suas margens, escorrendo para afluentes e a milhares de lagoas que se espalham pelo relevo da Ribeira do Jaguaribe.
Foi registrada uma margem de 6km de uma margem à outra do leito.
Tudo foi tomado pela tromba d’água inicial e volume que se seguiu nos dias
seguintes.
Os dados oficiais da época dizem que o desastre tirou a vida de mil pessoas, porém, tendo em vista a impossibilidade de centenas de vítimas desaparecidas e que nunca foram achadas. Não acredito em um número tão baixo diante do tamanho da região e os mais de cem mil desabrigados. Além das percas das vidas de animais, lavouras, cemitérios, igrejas entre tantas coisas. Por erro humano, erro que nos faz questionar as responsabilidades não assumidas pelos responsáveis pela obra. Até hoje.
🐆 Rio das Onças 🐆
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A Lagoa da Caiçara
Lagoa da Caiçara, Russas CE |
Izodi era como os
antigos indígenas Tapuia chamavam a lagoa da Caiçara. Com a colonização dos
portugueses e a influente presença da língua Geral a lagoa ficou sendo chamada
de Caiçara. O significado de Izodi não é conhecido, já que os antigos moradores
desses sertões tinham a necessidade de falar o tupi-guarani para a troca de
mercadorias, alianças de guerra e agora para negociar com os portugueses.
Já o nome Caiçara significa
uma estratégia de guerra utilizada pelos indígenas. Trata-se de grandes estacas
de madeira fincadas no chão, escondidas nas descidas de barrancos entorno da lagoa. O inimigo era
atraído para as armadilhas e no galope de seus cavalos caíam em cima das
lanças ponteagudas.
A primeira observação
sobre a posição estratégica da lagoa da Caiçara foi feita pelo capitão João da Mota e Pedro
Lelou, afirmando que:
“... Levantando um Forte Real, por nome São Francisco Xavier (1696), junto a Lagoa IZODI (Caiçara), para reprimir as hostilidades e entradas que o gentio costumava fazer, deixando o dito Forte acabado com todo o necessário, como muralhas e estacadas, guaritas, parapeitos e Quartéis, sem dispêndio algum da Fazenda Real...”[1]
Com a chegada do Forte Real que tinha sua frente localizada aonde hoje estão algumas lojas na Avenida Dom Lino, próximo à Praça Monsenhor João Luiz, a lagoa Izodi passou a se chamar Caiçara. Ponto estratégico para conquistar estes territórios para a Coroa portuguesa. tinha na frente do Forte o riacho das Russas, e por trás a riqueza da lagoa da Caiçara, fonte d’água que podia resistir a até três anos de seca.
A lagoa da Caiçara
brota de umas pedras que ficam do lado da BR 116 Rodovia Santos Dummont e
percorre toda a cidade. Nos anos de bom inverno ela vai interligando várias
lagoas, até se encontrar com o riacho Araibu na comunidade do Tourão. Em
momentos de grande seca, como em 1790, 1816, 1877 e 1915, entre outros anos
menos catastróficos, a lagoa da Caiçara foi um dos veios d’água que permitiu a
existência do então arraial das Russas. Um grande reservatório natural em meio às
riquezas e asperezas desse sertão jaguaribano.
Atualmente a lagoa da
Caiçara está reduzida a uma pequena parte do que foi no passado. A cidade
cresceu e engoliu suas margens e cortou seu curso, mesmo assim, em anos de
muita chuva ela tenta se unir alagando alguns bairros da cidade de Russas. É
necessário que o município esteja sempre imbuído na manutenção e preservação do
eco-sistema que ainda resiste às ações degradantes do homem.
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Bibliografia
ROCHA, Limério Moreira da. Russas: 200 anos de emancipação política, Ed. Fortaleza Banco do Nordeste, 2001.
ROCHA, Limério Moreira da. Russas: sua Origem, sua Gente, sua História. Ed. Recife Gráfica, 1976.
ALCÂNTARA, Pedro de. Capital e
Santuário: miragens russano-nordestinas. Ed. IOCE, Fortaleza: 1986.
[1] ROCHA,
Limério Moreira da. “Russas: 200 anos de emancipação política”; Ed. Fortaleza
Banco do Nordeste, Fortaleza: 2001. Pág. 27.
O projeto geopolítico para a América Latina - Audiência Pública
Massacre Indígena das Terras Russas
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Polé: Ilustração do livro Russas: 200 anos |
Logo após a instalação do Forte de São Francisco Xavier em 1696, onde hoje está localizada a cidade de Russas, no Ceará, começaram as novas formações das primeiras estruturas religiosas para aldear os indígenas de várias famílias de etnias diferentes no Vale do Jaguaribe.
No
intuito de formar novos cristãos e usá-la como mão-de-obra semi-servil, usavam-se
os mais variados meios de tortura e desmoralização do indivíduo e das famílias
como punição pelas faltas cometidas segundo o ponto de vista cristão.
Como
podemos observar em Limério[1] a constatação da
existência de uma polé em Russas instalada em 1701, instrumento de tortura tão
terrível que só poderia ser erguido com a autorização do Rei ou do Papa, era
uma das paisagens encontradas bem ao lado do Forte.
“Muitos
guerreiros indígenas ou revoltosos preferiam o suicídio a ter que passar pelas horas
ou dias intermináveis dos sofrimentos provocados pela polé.” (Rocha,
2001)
Havia
o aldeamento denominado Aldeia Velha em Itaiçaba e o outro que foi instalado
nas proximidades da atual cidade de Morada Nova e chamava-se Aldeia de Nossa Senhora das Montanhas.
Todas sob o comando do Pe. João da Costa, acusado por seus contemporâneos de
fornecer mão de obra indígena para lavrar suas terras e as terras de parentes,
além de vender mão-de-obra aos fazendeiros.
Assim
como todos os proprietários de terras, o Pe. João da Costa combatia com fúria
os indígenas que ainda moravam em suas tribos, alegando que estes lhe roubavam
o gado e assassinavam cruelmente pessoas que se aventurassem em seus
territórios. Escreveu ao Bispado de Recife/Olinda, ao qual Russas fazia parte,
pedindo que enviasse tropas para combater de vez os últimos resistentes do
domínio português na região. Ele não foi o único, vários proprietários de gado
já faziam esta solicitação há anos.bb
Foram
atendidos em 1699, quando chegou a Ribeira do Jaguaribe a Bandeira Paulista com
quatrocentos homens bem armados e inúmeros guerreiros Janduins que acompanhavam
os portugueses. Comandados pelo
famigerado bandeirante paulista Capitão de Campo Antônio de Morais Navarro, que
se aquartelando no Forte de São Francisco Xavier, mandou convocar todos os
indígenas Tapuias Paiacu da região jaguaribana, com o argumento de que
receberiam um presente do Rei, e também levassem suas mulheres e filhos para verem
a honra que os indígenas iriam receber.
Tal
foi a armadilha traiçoeira, que todos os aldeados, assim como, uma parte dos indígenas
livres, rumaram para frente do Forte São Francisco Xavier. Eis que, ao se ter
enorme quantidade de pessoas na frente do Forte, o capitão Navarro mandou que
sua tropa atirasse sem piedade contra a multidão despercebida, dando ele mesmo
o sinal com o primeiro tiro no principal Jenipapoaçu. Aqueles que tentavam
fugir eram apanhados pelos Jandoins que estavam escondidos na retaguarda.
Quase
todos os homens morreram e as mulheres e crianças que sobraram desse genocídio
foram aprisionados e enviados para aldeamentos na Paraíba e Rio Grande do
Norte. Centenas de índios morreram na emboscada. Esse ato foi tão repugnante e
covarde que o Bispo de Pernambuco excomungou o Capitão Navarro. Tendo em vista
o ardil criminoso que utilizou para matar aquele enorme número de pessoas
inocentes.
O
Pe. João da Costa foi um dos denunciantes de Navarro, embora tenha pedido força
armada para combater os índios rebeldes, não contava que a estratégia de
Navarro fosse o extermínio definitivo dos indígenas da ribeira do Jaguaribe.
Não contava, sobretudo, que os índios de suas aldeias ou seus trabalhadores não
remunerados, fossem atentados e caíssem nesta armadilha.
Depois
que Russas recebeu a denominação de Paroquiato com suas Freguesias, erguendo
sua primeira igreja em 1707, a comunidade colonial russana já gozava de certo
aparelhamento burocrático de controle do Estado português, leia-se (rei/papa).
Embora ainda houvesse alguns ataques aos sítios da sede da Freguesia de Nossa
Senhora do Rosário das Russas que perdurariam até a segunda década do século XVIII.
O povoado germinava em oficinas, comércios e principalmente nas feiras que
ofereciam mercadorias de outras províncias. O núcleo urbano da atual cidade de
Russas começava a ganhar forma. Mas, sem dúvida Russas foi consolidada pela
força econômica da pecuária.
[1]
ROCHA, Limério Moreira; Russas 200 anos de Emancipação Política; Ed. Fortaleza
Banco do Nordeste, 2001; pág. 49.
Español
La
Matanza Indígena de las Tierras de Russas
Poco después de la instalación del Fuerte de São Francisco Xavier, en 1696, donde hoy se encuentra la ciudad de Russas, en Ceará, comenzaron a instalarse las principales estructuras religiosas para asentar a los indígenas de varias familias de diferentes etnias en el Valle de Jaguaribe.
Para
formar a los nuevos cristianos y utilizarlos como mano de obra semisierva se
recurría a los más variados medios de tortura y desmoralización de individuos y
familias como castigo por las faltas cometidas según el punto de vista
cristiano.
Como
podemos comprobar en Limério, la existencia de un polé en Russas, instalado en
1701, un instrumento de tortura tan terrible que sólo podía erigirse con la
autorización del Rey o del Papa, era una de las curiosidades que se encontraban
junto al Fuerte.
"Muchos
indígenas guerreros o rebeldes preferían el suicidio a tener que soportar las
interminables horas o días de sufrimiento provocados por la polea".
(Rocha, 2001)
Hubo
un asentamiento llamado Aldeia Velha en Itaiçaba y otro que se estableció cerca
de la actual ciudad de Morada Nova y se llamó Aldea del Nuestra Señora del la Montaña. Todas bajo el mando del padre João da Costa, acusado por sus
contemporáneos de suministrar mano de obra indígena para trabajar sus tierras y
las de sus parientes, así como de vender mano de obra a los campesinos.
Como
todos los terratenientes, el padre João da Costa luchó furiosamente contra los
indígenas que aún vivían en sus tribus, alegando que robaban su ganado y
asesinaban cruelmente a las personas que se aventuraban en sus territorios.
Escribió al obispado de Recife/Olinda, al que pertenecía Russas, pidiéndole que
enviara tropas para combatir de una vez por todas a los últimos reductos del
dominio portugués en la región. No fue el único; varios ganaderos llevaban años
haciendo esta petición.
Se
les concedió en 1699, cuando la Bandeira Paulista llegó a Ribeira do Jaguaribe
con cuatrocientos hombres bien armados e innumerables guerreros janduinos
acompañando a los portugueses. Comandada
por el tristemente célebre bandeirante paulista, el capitán de campo Antônio de
Morais Navarro, acuartelado en el fuerte de São Francisco Xavier, ordenó
convocar a todos los indígenas Tapuias Paiacu de la región del Jaguaribe, con la
excusa que recibirían un regalo del Rey, y también que llevaran a sus
esposas e hijos para mirar el honor que recibirían los indígenas.
Tan
traicionera fue la trampa que todos los aldeanos, así como algunos de los
indios libres, se dirigieron hacia el Fuerte São Francisco Xavier. Cuando hubo
una gran multitud frente al fuerte, el capitán Navarro ordenó a sus tropas
disparar sin piedad contra la multitud inadvertida, dando él mismo la señal con
el primer disparo contra el Jenipapoaçu principal. Los que intentaron huir
fueron alcanzados por los jandoins que se escondían en la retaguardia.
Casi
todos los hombres murieron y las mujeres y niños que quedaron de este genocidio
fueron encarcelados y enviados a pueblos de Paraíba y Rio Grande do Norte.
Cientos de indios murieron en la emboscada. Este acto fue tan repugnante y
cobarde que el obispo de Pernambuco excomulgó al capitán Navarro. En vista de la
artimaña criminal que utilizó para matar a ese enorme número de inocentes.
El
padre João da Costa fue uno de los denunciantes de Navarro. Aunque pedía la
fuerza armada para combatir a los indios rebeldes, no se daba cuenta de que la
estrategia de Navarro sería el exterminio definitivo de los indios del río
Jaguaribe. Sobre todo, no esperaba que los indios en sus aldeas o sus
jornaleros no remunerados fueran atacados y cayeran en esta trampa.
Después de que Russas fuera rebautizada como parroquia con su primera iglesia en 1707, la comunidad colonial de Russas ya contaba con un cierto aparato burocrático bajo el control del Estado portugués. Aunque todavía hubo algunos ataques a los lugares de la parroquia de Nossa Senhora do Rosário das Russas que duraron hasta la segunda década del siglo XVIII. En la ciudad surgieron talleres, tiendas y, sobre todo, ferias que ofrecían mercancías de otras provincias. El núcleo urbano de la actual ciudad de Russas empezaba a tomar forma. Pero, sin duda, Russas se consolidó gracias a la pujanza económica de la ganadería.
Russas em Ângulos: Uma história em fotos
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Caminhão Misto (passageiro e carga) que fazia o transporte entre Russas e Fortaleza na década de 1950 - Foto: Memorial Fotográfico do Trasporte Coletivo de Passageiros do Ceará. |
Em comemoração aos 222 anos de emancipação política de Russas - CE.
Créditos
das Imagens: Mauro Angeli - Ivelto Silva - Diego Ferreira - Adriano Studio - Evandro
Silva - Angélica Gonçalves - José Maria de Almeida - Fátima Gonçalves -
Associação dos Transportes Públicos de Passageiros do Estado do Ceará.
Crédito
Música: Efeito
Tempo - Banda BEHÚ
Contexto Histórico - 222 anos de emancipação política de Russas
Nesse ano de 2023,
quando Russas e os russanos comemoram os seus 222 anos de emancipação
política, gostaria de falar um pouco dessa história que tem algumas
curiosidades. Acredito que é importante para o ensino da História Local que a
gente coloque sempre um vínculo entre a nossa história, a história do Brasil e
a do mundo neste mesmo período estudado.
O bojetivo é passar a ideia de que nós
aqui em Russas e na nossa região estamos inseridos num contexto bem maior, fazendo com que o aluno amplie o seu olhar para a sua própria história. Um
enredo maior, um processo de construção feito em disputas externas e internas,
que influenciaram diretamente no desenrolar da nossa história local. Afinal, a
data de 06 de agosto de 1801 envolve muitos outros eventos do Brasil colônia e na
política da metrópole em Portugal.
Essa história
começa algumas décadas antes da data comemorativa atual.
O ano de 1750 ficou na
história oficial do Brasil e de Portugal como data da chegada à administração
do Estado português de Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês
de Pombal. Título que só recebeu dezenove anos em 1769, ele foi o
responsável pelas reformas que teve consequências diretas no Brasil,
principalmente, depois do grande terremoto que devastou a capital Lisboa em
1755.
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Terremoto de 1755 deixou entre 10 mil e 70 mil mortos e destruiu cerca de 85% das construções de Lisboa - Wikimedia Commons Compliado da Página: Aventuras na Históira |
A necessidade de ter mais controle sobre as colônias para angariar recursos se tornou a política de interesse número um de Portugal. Uma dessas medidas na mudança administrativa foi um decreto de criação de Vilas nas regiões de fluxo de produtos a serem taxados, retirando-as do controle absoluto da Igreja. Uma forma de alcançar os pontos mais inacessíveis para um maior controle e arrecadação.
Para a Freguesia da
Ribeira do Jaguaribe veio um decreto para que o vigário conduzisse junto ao
Capitão-mor do Ceará a criação de uma comissão para a eleição de uma câmara. O
protocolo mandava que o vigário fixasse, como de costume, uma cópia do decreto
na porta principal da igreja Matriz. Além de comunicados verbais depois das
missas e nos locais públicos.
O Vigário na época, Manoel da Fonseca Jaime, apenas registrou na ata da paróquia sem usar outros meios de comunicar à população sobre o decreto. Não interessava a nenhuma das forças políticas local e da Capitania nessa emancipação, pois todos os outros cargos que faziam parte da administração da capitania já estavam bem acomodados com seus devidos apadrinhados políticos.
O fato é que naquele
momento os olhos da administração portuguesa estavam voltados principalmente para
os desvios nas recém-descobertas minas de ouro e pedras preciosas das Terras
Gerais, futura Minas Gerais. Não se deu muita atenção a esta região do
sertão cearense. O motivo do Pe. Manoel da Fonseca não querer a
instalação da Vila era a divisão do poder do vigário, logo da Igreja, na
administração desta freguesia.
Uma vez eleita uma câmara
e oficializada a Vila, a Paróquia perderia completamente a administração de
grande parte das riquezas produzidas pelos criadores de gado e movimentação de
mercadorias. Passaria para as mãos do poder temporal, da chamada Câmara dos
bons.
Depois de mais de três
décadas, em 1798, a comunidade russana encabeçada pelo então vigário José
Bernardo Galvão faz uma solicitação oficial e anexa toda a documentação
anterior do processo de elevação ao termo de Vila. A posição favorável da
Província de Pernambuco saiu no dia 16 de maio de 1799, com a documentação
assinada do Termo de Vila, a qual deveria ser denominada como Vila de Santo
Antônio do Ouvidor.
No entanto, mais uma vez
os russanos têm que esperar por mais três anos. A questão é que naquele mesmo
ano de 1799 foi decretada também a criação da Província do Ceará que deixou de
ser apenas uma Capitania anexa à Província de Pernambuco. O ato anulou toda a
documentação já feita pela jurisdição pernambucana.
Finalmente, somente em 06
de agosto de 1801 a Freguesia de Russas recebe os direitos de eleger seus
representantes locais. É erguida a Vila de São Bernardo das Russas e como
símbolo deste poder é erguido o pelourinho na grande área aberta na frente da
Matriz do Rosário. Neste primeiro momento as eleições eram para os seguintes
cargos: 3 vereadores; 01 Capitão das Armas; 01 Juiz Ordinário; 01 Juiz de
Órfãos e 1 Procurador.
Depois de eleitos, os
mesmos nomeavam pessoas para ocupar outros cargos administrativos não eletivos,
como o Chefe de Quarteirão, o Meirinho, o grupamento armado da força pública e
outros cargos daquele antigo modelo de eleições e os protocolos e cargos administrativos
da época.
Vale ressaltar que o
chefe político da Vila era eleito entre os três vereadores que escolhiam entre
si aquele que assumiria o cargo equivalente hoje a prefeito e nem todos os
moradores podiam votar ou ser votado. Esse privilégio só alcançava quem
soubesse ler ou escrever e tivesse uma renda anual de mais de 100.000$00 réis,
além de outras regras que beneficiavam somente os ricos proprietários ou
membros da nobreza.
Assim ficou gravado na
história de Russas o dia 06 de agosto de 1801. O início de uma nova
realidade e novos desafios para a recém criada Vila de São Bernardo das Russas.
Aliás, passar à Vila não era uma questão de um número populacional grande ou de
grandes prédios de alvenaria na sede administrativa. Criar uma Vila era muito
mais um protocolo administrativo para se obter oficialmente um maior
conhecimento e controle das atividades de um local.